Refletindo sobre o ano que passou e planejando o futuro

Raquel Balceiro
5 min readDec 29, 2022

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Por Raquel Balceiro, D.Sc.

Photo by Denise Jans on Unsplash

Em 2019, escrevi sobre o modelo de Reflexões de Final de Ano, da Hyper Island, que envolvia 11 passos e que você pode acessar aqui em português [1].

Viramos aquele ano e, no meu planejamento, havia a intenção de conhecer mais sobre as Estruturas Libertadoras, e foi exatamente o que eu fiz quando, em março de 2020, fomos obrigados a manter isolamento por conta da pandemia de covid-19 que assolou o planeta.

Com este grupo, conheci um conjunto de pequenas metodologias de facilitação de grupos que podem muito bem ser usadas para refletirmos sobre o ano que passou e planejarmos o próximo. Uma delas é a W³ What, So What, Now What?, que você pode conhecer aqui [2].

Ela é baseada na metodologia do Gary Rolfe [3], mas o legal é que os praticantes de Estruturas Libertadoras já deixaram a sua aplicação totalmente detalhada no site que eu menciono anteriormente. A metodologia do Rolfe parece ser bem simples, assim como inúmeras metodologias que conhecemos, se não a aplicarmos no nível de profundidade que ela merece ser aplicada. Em cada uma das fases, Rolfe sugere alguns passos, descritos a seguir:

O QUÊ?
A primeira etapa é uma mera descrição do que aconteceu e da experiência que você gostaria de analisar e levar adiante para seu próprio aprendizado. Pense em algo que foi importante para você durante o ano e entenda de que forma aquilo contribuiu para o seu crescimento. São esses momentos, bons ou ruins, que merecem ser analisados e incorporados no seu repertório de aprendizados relevantes.

E ENTÃO?
Assim que você conseguir descrever completa e cuidadosamente a situação em questão, deverá se perguntar o que a experiência e a situação significam para você. Foi bom ou ruim? O que acrescentou? Que pontos merecem atenção?
Rolfe recomenda que, aqui, você consulte também a literatura sobre o tema e, eventualmente, alguns colegas, de modo a obter uma visão mais abrangente sobre o assunto. Senão, você terá que confiar apenas nas suas próprias interpretações, o que pode ser um tanto limitado.

E AGORA?
Na última etapa, você precisa considerar quais serão os passos que dará para melhorar sua prática e aprender com a experiência inicial. Você deve elaborar um plano de ação que contemple alguns indicadores-chave sobre o que fará e como avaliará se sua prática melhorou.

Nas colunas deste Plano de Ação, você pode incluir:

  1. Objetivo;
  2. Próximos passos;
  3. Critérios de sucesso;
  4. Cronograma.

Outro modelo que é bem interessante é o de Graham Gibbs, um estudioso da prática de learning-by-doing (ou aprendizado com a prática). Gibbs inclui em seu modelo de 6 passos, a análise e compreensão dos sentimentos envolvidos, o que ajuda bastante a saber o porquê de um determinado resultado. As diferentes etapas geralmente ajudam a desacelerar nossos processos de pensamento para que não tiremos conclusões precipitadas.

PASSO 1: DESCRIÇÃO
Nesta etapa, é preciso que se descreva, o mais fielmente possível, o que ocorreu, sem julgamentos, nem conclusões precipitadas.

PASSO 2: SENTIMENTOS
Quais foram as suas reações e sentimentos para a situação que você está analisando? Como você se sentiu física e emocionalmente? Qual a reação dos demais às suas reações?

PASSO 3: AVALIAÇÃO
Como foi essa experiência para você? Foi boa ou ruim? Aqui você deverá fazer os seus primeiros julgamentos de valor, considerando a experiência pela perspectiva de outras pessoas envolvidas. Isso vai te ajudar a entender se a experiência foi boa ou ruim só para você ou para os demais também.

PASSO 4: ANÁLISE
Que sentido você pode dar à situação? O que realmente estava acontecendo? As experiências de pessoas diferentes foram semelhantes ou diferentes? Analisar o que aconteceu um pouco mais a fundo deve considerar as respostas para as estas perguntas. Nesta fase, busque ideias de fora de pessoas que você confia para ajudá-lo a entender o que de fato ocorreu. Isso pode significar envolver colegas, mentores, coachs e superiores em suas reflexões, mas também consultar literatura e teorias para entender o que aconteceu.

PASSO 5: CONCLUSÕES
O que se pode concluir dessas experiências a partir das análises que você fez? Quais as conclusões sobre sua situação pessoal e sua forma de trabalhar? Ao tirar conclusões, considere a situação específica que você avaliou e a forma como os aprendizados dessa situação podem ser expandidos para os demais aspectos da sua vida. Pense no que suas conclusões significam em curto, médio e longo prazo.

PASSO 6: PLANO DE AÇÃO PESSOAL
O que você fará de diferente nesse tipo de situação na próxima vez? Que mudanças você implementará com base no que aprendeu? Para que você melhore sua prática e aprenda com experiências específicas, você precisa planejar e colocar em prática um plano de ação simples com indicações importantes sobre os próximos passos e como avaliará (critérios) se sua prática melhorou.

Se você chegou até aqui, deve ter percebido que esses passos podem ser adotados para uma reflexão individual ou adaptados para uma reflexão em grupo, e se parece, de certa forma, com os Eventos de Lições Aprendidas, muito comuns no gerenciamento de projetos.

O importante é levar o processo a sério e estabelecer metas que possam ser acompanhadas ao longo do ano, de modo a permitir que você verifique a sua evolução.

Se você é daquelas pessoas que gosta muito de um Planner que te oriente a fazer essa reflexão e esse planejamento, recomendo que você utilize o YearCompass, que te ajuda a olhar o ano que passou e pensar no ano que se apresenta.

E então, vamos juntos?

Referências

[1] Balceiro, Raquel. Reflexões de final de ano. LinkedIn, 27/12/2019. Acessível em: https://www.linkedin.com/pulse/reflex%C3%B5es-de-final-ano-raquel-balceiro/

[2] Estruturas Libertadoras. W³ What, So What, Now What?. Acessível em: http://www.liberatingstructures.com.br/9-w3/

[3] Rolfe, G., Freshwater, D. and Jasper, M. (2001). Critical reflection in nursing and the helping professions: a user’s guide. Basingstoke: Palgrave Macmillan.

Raquel Balceiro é Doutora em Engenharia de Produção com especialização em Gestão do Conhecimento, é professora da Pós-graduação Lato Sensu em Gestão do Conhecimento (MBKM) do CRIE — COPPE/UFRJ, e ministra as disciplinas “Mapeamento do Conhecimento” e “Capital de Ecossistema”.

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Written by Raquel Balceiro

Praticante de Gestão do Conhecimento, facilitadora de equipes, educadora, professora de pós-graduação

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